Desde que comecei a trabalhar com
a dança percebo algumas frases comuns de bailarinos. Algumas dessas são
típicas. Já me preparo quando estou na coxia. Depois do agradecimento saem sem
fôlego com a já manjada ideia “foi tudo horrível”. E é daí para pior.
Eu já falei o quanto pensamentos
influenciam emoções e comportamentos. Então obviamente estou muito interessada
em capturar estes pensamentos. Agora pare e pense: o que este pensamento vai
gerar? Certamente uma emoção ruim, de fracasso, culpa, etc. Mas e o
comportamento? Como um bailarino que pensa dessa forma vai se comportar?
Muitos vão ler e dizer: “ora, de
que vale a pena eu me sentir bem? Se eu vejo que está ruim eu vou fazer mais
aulas e melhorar muito mais. Então esse é um pensamento muito bom!”. Ledo
engano. É obvio que o bailarino vai buscar melhorar sempre mais. O trabalho é
exaustivo em busca do inalcançável: a perfeição. Mas esta busca pela perfeição
deixa os bailarinos cegos. A atitude dos bailarinos se torna esta: tudo o que
não é perfeito não me serve. E como já disse antes a perfeição é inalcançável!
Quem dança tende a ter pensamentos do tipo “tudo ou nada”, “oito oitenta” e
passa a não enxergar as nuances.
Quer saber o resultado? É
simples: não conseguem ver onde melhoraram, onde ainda precisam se esforçar
mais e acabam por não conseguir dar atenção especial a nada em aula. Usam o
mesmo esforço para tudo, ou seja, não se esforçam a mais em nada. Quando acabam
a aula e querem praticar alguma coisa ficam um pouco sem saber o que praticar
exatamente. Não raro um professor ou colega fala que o bailarino melhorou e ele
responde com um olhar surpreso. E para o que ainda deve ser desenvolvido o
bailarino também se cega, por achar que está “tudo horrível”.
Portanto: quando saem da coxia e
falam “foi tudo horrível” peço que se acalmem, façam suas atividades do dia
normalmente e assistam a um vídeo da apresentação no dia seguinte – é muito
importante sempre ter alguém para filmar. Por quê? No dia da apresentação o
pensamento de que “tudo foi horrível” está “quente” (ainda tem muita força na
nossa mente). No dia seguinte nossa mente já está mais livre desses pensamentos
negativos. Depois de assistido ao vídeo geralmente já se tem uma ideia
diferente da apresentação, podendo ser percebido por frases como “até que isso
eu fiz bem”. Então, feito isso peço que escrevam o que afinal está tão ruim,
mas também do que está bom. Assim, o bailarino vai fazer uma lista clara e
específica e perceber que afinal, não foi “tudo ruim”, mas sim algumas coisas
pontuais.
O resultado: ele poderá em aula
depositar maior energia e dedicação a alguns movimentos que precisam de maior
atenção e claro não terá tantos sentimentos negativos. Apesar de parecer a princípio bom se pensar
que tudo está ruim, afinal de contas não é tão positivo para o rendimento
final. Portanto, comece a perceber que nem tudo que não é perfeito é horrível.
Passe a notar pequenas mudanças e melhoras e continue cada vez mais a buscar seus
sonhos!
Maria Cristina Lopes
Psicóloga da dança
CRP 5/47829
Consultas no Rio de Janeiro e online 21 993053432
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